Por que a queda de cabelo afeta tantas mulheres no Brasil

Introdução:

A queda de cabelo é uma preocupação estética e de saúde que afeta uma considerável parcela da população feminina brasileira. A busca por entender as razões por trás desse fenômeno tem sido objeto de estudo e atenção médica, dada a sua relevância para a autoestima e bem-estar das mulheres.

A realidade de muitas mulheres:

A queda de cabelo, condição que afeta tanto homens quanto mulheres, tem sido objeto de estudo e preocupação, especialmente no contexto feminino, onde sua manifestação pode acarretar implicações emocionais significativas além das questões estéticas. Segundo dados fornecidos pela Sociedade Brasileira de Dermatologia, aproximadamente 40% das mulheres no Brasil enfrentam algum grau de queda de cabelo, revelando a extensão desse fenômeno na população feminina.

De acordo com a Doutora Jaqueline Zmijevski, médica dermatologista especialista em tricologia, muitos tipos de doenças podem acometer o couro cabeludo feminino levando a queda de cabelo, sendo a mais comum o Eflúvio Telógeno, uma condição em que a paciente perde o cabelo de forma abrupta após algum evento estressante pro metabolismo, acarretando numa queda acentuada e diária. Dra. Jaqueline destaca também a alopecia androgenética como forma de perda de cabelo não definitiva mais comum entre mulheres e os fatores que levam ao seu desenvolvimento, como fatores genéticos e fatores hormonais como os hormônios androgênicos “ – Para a paciente ter calvície ela precisa ter uma predisposição genética e, ao longo da vida, a influência dos hormônios vai desencadear uma rarefação progressiva dos fios, com afinamento e redução de volume. Além dos efeitos hormonais, devemos considerar ação da epigenética, como fatores ambientais: má alimentação, tabagismo, estresse associado, exposição elevada ao sol, comorbidades e uso de medicamentos.

Mudanças de paradigma:

Hoje entre as mulheres, é relatado um aumento substancial e sistemático de alopecias cicatriciais, principalmente a Alopécia Frontal Fibrosante, uma doença relativamente nova, descrita pela primeira vez em 1994. Ela é caracterizada como um tipo de alopecia cicatricial, ou seja, que leva à perda irreversível de pelos e cabelos. Isso ocorre, principalmente, na borda anterior do couro cabeludo e sobrancelhas.
Dra Jaqueline nos conta que esses casos podem estar associados a doenças auto imunes, com por exemplo doenças da tireoide, alguns tipos de alergias, baixa vitamina D, Síndrome do Intestino Irritável e herança genética, visto que em 30% dos casos existem algum membro familiar também acometido pela mesma patologia.

Teorias sobre o aumento de casos:

De acordo com a Dra. Jaqueline, as principais teorias que buscam tentar identificar o porquê do aumento exponencial dos casos de queda de cabelo na população feminina são a teoria da autoimunidade e a teoria da oclusão folicular.

Teoria da autoimunidade: A teoria da autoimunidade sugere que o sistema imunológico pode atacar erroneamente células e tecidos do próprio corpo. Isso pode ocorrer devido a falhas na tolerância imunológica, mimetismo molecular, estímulo inadequado do sistema imunológico e fatores genéticos. As doenças autoimunes podem afetar uma variedade de tecidos e órgãos, e o tratamento geralmente envolve a supressão da resposta imunológica.

Teoria da oclusão folicular:Essa teoria está relacionada ao uso de cosméticos oclusivos como exemplo protetores solares, pomadas, cremes hidratantes densos, óleos faciais e cosméticos para cabelo a base de óleo, cera e outras bases pouco solúveis em água. A teoria diz que o uso excessivo de produtos oclusivos no couro cabeludo pode obstruir a desembocadura dos folículos capilares, favorecendo o quadro.

Ambas as teorias foram levantadas como possíveis norteadoras para o melhor entendimento desses aumentos, mas ainda não são consenso na comunidade científica.

Diversidade genética:

Existem algumas populações que estão mais suscetíveis ao aparecimento de calvície e outras doenças do couro cabeludo, como homens e mulheres com fenótipo caucasiano, sendo negros e asiáticos menos suscetíveis ao aparecimento da maioria das formas de alopecia. Todavia, a Dra. Jaqueline afirma que as doenças do couro cabeludo não têm predileção por credo, raça, sexo ou poder monetário, não tendo essas características uma ligação com o aparecimento dessas doenças.

Todavia, de acordo com a doutora; isso não é um fator decisivo para o aparecimento de calvície ou outras doenças do couro cabeludo ou do aumento dos casos em mulheres, sendo os casos todos de caráter individual.

Dra Jaqueline nos explica também que atualmente tem tido muitos avanços científicos em pesquisas para entender a calvície feminina “Diferente da calvície masculina, que após muitos estudos já sabemos como funciona, quais são todos os fatores envolvidos, os genes já foram todos codificados, e no caso da mulher, a gente sabe que tem a herança familiar, sabe que tem essa associação hormonal mas sabemos que tem mais alguma coisa que estamos estudando para entender”.

Outros fatores:

Uma das causas mais alegadas para o aumento dos casos de queda de cabelo nos últimos anos está ligado à covid-19, segundo os especialistas. Foi constatado que um dos principais efeitos colaterais da infecção por coronavírus foi a queda repentina e imediata dos cabelos, o que deixa muita gente preocupada até hoje. É importante notar que a alopecia feminina, conhecida também como alopecia androgenética, tem uma base genética, o que reforça a importância do diagnóstico precoce e do tratamento personalizado para cada paciente. Para isso, uma avaliação minuciosa, considerando não apenas fatores hormonais, mas também ambientais e emocionais, é fundamental para determinar a abordagem terapêutica mais adequada.

Em resumo, a queda de cabelo em mulheres no Brasil é um fenômeno multifacetado que demanda uma compreensão abrangente e uma abordagem interdisciplinar. A combinação de conhecimentos médicos, tecnológicos e psicossociais pode oferecer soluções eficazes e personalizadas para as mulheres que enfrentam esse desafio.